Alair Gomes, Symphony of Erotic Icons #6, 1966-1987.
2021.    Alair Gomes
Exposição “Symphony of Erotic Icons, Coleção Renata Phoenix”

Texto crítico para a exposição  da VERVE na SP-ARTE 2021


Symphony of Erotic Icons, Coleção Renata Phoenix

Esta narrativa visual é dedicada ao toque. Ao toque em si, ao toque no outro, ao toque impossível, ao toque observante. Em tempos em que aos poucos voltamos à fisicalidade das interações, retoma-se um toque sempre censurado e velado: o do desejo homoerótico, o toque corporal íntimo entre homens. A VERVE traz à SP-ARTE a tensão do não-toque na obra de Alair Gomes, um dos maiores fotógrafos de nus masculinos do mundo, com obras no acervo do MoMA de Nova York, do MASP e da Fundação Cartier, em Paris.
    Esta sinfonia de ícones eróticos, advinda da coleção de Renata Phoenix, demonstra que a preocupação fundamental do fotógrafo não é sobre o toque em si, mas sobre as diversas possibilidades que orbitam em torno do toque. Afinal, ícones são possíveis de serem tocados? Ao expor seu desejo, Gomes o protege: coloca e exibe o corpo que não tocou em uma redoma, proibindo o toque futuro. Onde a privação e a revelação estão lado a lado, decreta-se que esse corpo, de agora em diante, só será tocado pela luz.
    Nas fotos, a luz toca, roça e excita o corpo onde a língua é tímida, fazendo-a tocar o céu da boca de quem observa ditando a musicalidade inerente ao corpo que se deseja: ora sereno, ora brutal. Esse áspero baile entre o corpo e a música na dança do querer-possuir agitam as estátuas de carne viva fotografadas por Gomes, na tensão do que se pede à pele.
    Usualmente, a plataforma da fotografia é utilizada para proporcionar uma identificação do espectador com o retratado. Nesse caso, entretanto, a dinâmica se altera: identificamo-nos com o fotógrafo, que reprime o toque, almeja a contemplação e permite que o corpo desejado interaja com seu maior aliado, quem ele nunca será capaz de ser: a luz.

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Symphony of Erotic Icons, Renata Phoenix Collection

This visual narrative is dedicated to touching. To the touch itself, the touch on the other, the impossible touch, the observant touch. When we’re gradually returning to the physicality of our interactions, it’s resumed a touch always censured and condemned: the one of the homoerotic desire, the intimal corporal touch between men. VERVE brings to SP-ARTE the tension of the non-touch on the work of Alair Gomes, one of the biggest photographers of male nude in the world, with works on the collection of MoMA, MASP and Fondation Cartier.
    This symphony of erotic icons, from the Renata Phoenix collection, set forth that the fundamental concern of the photographer is not about the touch itself, but about the many possibilities about touching. After all, icons can be touched? Exposing his desire, Gomes protects it: places and exhibits the untouched body under a dome, forbidding the future touch. Where privation and revelation are side by side, it’s decreed that this body, from now on, will only be touched by the light.
    On the photos, the light touches, rubs and excites the body where the tongue is shy, making it touch the palate of the observer dictating the musicality of the desired body: serene, but also brutal. This harsh dance between the body and the swing of the will-to-possess agitates the live flesh statues photographed by Gomes, on the tension of what’s asked by the skin.
    Photography is usually used to provide an identification of the viewer with the portrayed. In this case, however, the dynamic is shifted: we identify ourselves with the photographer, that represses the touch, craves the contemplation and allows the desired body to interact with his biggest ally, what he’ll never will be able to be: the light.


Texto originalmente publicado na exposição “Symphony of Erotic Icons, Coleção Renata Phoenix” da VERVE, na SP-ARTE 2021, de 20 a 24 de outubro de 2021

Alair Gomes, Symphony of Erotic Icons #17, 1966-1987.


Alair Gomes, Symphony of Erotic Icons #22, 1966-1987.


Alair Gomes, Symphony of Erotic Icons #24, 1966-1987.


Alair Gomes, Journeys (Europe, Art) #3, 1969.