Paula Sampaio, Rodovia Transamazônica: Carvoaria, da série Antônios e Cândidas têm sonhos de sorte, 1997. Acervo MASP.
2023.    Arte contemporânea paraense
MASP Escola: “Arte contemporânea paraense: leituras e escrituras híbridas”

Curso ministrado no MASP, com oito aulas, analisando uma panorama contemporâneo da arte paraense

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Curso ministrado no MASP Escola, entre 9 de outubro e 1 de novembro de 2023
 
O objetivo do curso é apresentar imagens e narrativas na arte contemporânea paraense, incorporando-as à imensa diversidade das histórias brasileiras. Com um recorte temporal que privilegia artistas atuantes, com produção de 1980 ao presente, serão debatidas obras e seus artistas em múltiplas plataformas artísticas, como pintura, fotografia, desenho, grafite, performance, cinema e intervenção. O Pará é fruto de hibridismos culturais únicos, desde as sólidas tradições indígenas, a invasão européia, a presença negra, o impulso de modernidade pelo ciclo da borracha, o posterior declínio econômico e a sua atual reinvenção.
    Dessa forma, o que faz com que a produção paraense, ao mesmo tempo, se diferencie e se integre ao cenário brasileiro? O curso busca abordar esta questão, discutindo sobre os hibridismos culturais que constituem a sociedade paraense e que são materializados nesta produção artística, rompendo com estereótipos de exotismo e preconceitos regionalistas. As cinco aulas pretendem observar, com um olhar atento, temas como a constituição de uma estética híbrida, narrativas nativas, relações do indivíduo com a paisagem, questionamentos sobre invisibilidade regional, resistência e ativismo.

Aula 1 - 9.10.2023
Como se constitui uma estética híbrida?
Objetiva-se debater sobre as múltiplas possibilidades de expressões artísticas que contribuem para a formação de uma estética contemporânea paraense plural e que se opõe à noção de “visualidade amazônica” preconizada pela crítica de arte já obsoleta. Nesta aula, analisaremos obras de Emmanuel Nassar, Jorge Eiró, Flavya Mutran, Keyla Sobral e Emanuel Franco.

Aula 2 - 11.10.2023
Aproximações das narrativas nativas: consolidação de identidade imagética
Nessa aula, serão discutidas histórias transculturais e expressões locais que se consolidam nas obras de alguns artistas paraenses, com narrativas próximas às tradições populares paraenses, especialmente a população ribeirinha. Destaque para obras de Luiz Braga, Luciana Magno, Paulo Ribeiro, Paula Sampaio e Armando Sobral.

Aula 3 - 16.10.2023
Corpo e lugar: especificidades do eu
Serão apresentadas obras de artistas que se dedicam à representação do paraense como sua figura central, além das relações do indivíduo com a paisagem. Expõe personagens e cenários: o ribeirinho, o indígena, o híbrido, o outro; a cidade, a rua, o rio, a floresta. Discutiremos sobre as obras de Elza Lima, Miguel Chikaoka, Marise Maués, Mariano Klautau Filho, Elisa Arruda e Bené Fonteles.

Aula 4 - 18.10.2023
Às margens: a dinâmica centro-periferia
Os alunos serão conduzidos por obras de artistas que enfaticamente questionam paradigmas que definem o que é central e o que é periférico na sociedade e nas artes. Examinaremos obras de Éder Oliveira, PV Dias, Guy Veloso, Marinaldo Santos e Dina Oliveira.

Aula 5 - 23.10.2023
Conferência com Nay Jinknss
Estou aqui, sempre estive e sempre estarei: a importância da fotografia como bem querer
Esta aula será dividida em dois momentos. No primeiro, iremos trabalhar com o acervo de fotógrafos do período imperial, como Alberto Henschel e Augusto Fidanza, a entender como suas imagens constroem um imaginário exótico/racista, que se reforça e conecta com artistas da nossa contemporaneidade. O segundo momento abordará a importância da fotografia como bem querer, contranarrativa e rizoma de resistência. Falaremos dos trabalhos de José Ezelino, Irene Almeida, Monica Cardim, Rafael Fernando e outros.

Aula 6 - 25.10.2023
Conferência com Rafael Bqueer
Práticas de desobediência: corpo e arte política
Nessa aula, objetiva-se compreender processos políticos, históricos e de revolta popular na Amazônia, através das obras das artistas: Festa da Chiquita, Arthur Leandro, Qualquer Coletivo, Noite Suja, Coletivo das Themônias, Uýra Sodoma, Labō Young, Rafa Matheus Moreira, Nay Jinknss e Rafael Bqueer. Em suas práticas, questionam a história oficial da região, incorporando elementos, adornos e ações afirmativas por uma diversidade preta, indígena, periférica e LGBTQIA+ na história da arte paraense.  

Aula 7 - 30.10.2023
Conferência com Lorenna Montenegro
Interseções
“A Amazônia está destinada a ser a fonte imaginária do paraíso perdido”. A paráfrase da historiadora do cinema Selda Vale da Costa fala reforça uma certa visão estética da região amazônica que é alienante e excludente. Contrapondo ao olhar colonizador, que exotiza  diferentes visões sobre a floresta presentes em produções audiovisuais como Noites Alienígenas (2022, de Sérgio de Carvalho), Reflexo do Lago (2021, de Fernando Segtowick), Segredos do Putumayo (2020, de Aurélio Michiles) e Para Ter Aonde Ir (2016, de Jorane Castro) e Terruá Pará (2023, de Jorane Castro).

Aula 8 - 1.11.2023
Conferência com Moara Tupinambá
Arte e retomadas indígenas no Pará
Nesta aula, pretende-se analisar as poéticas e os ativismos de artistas paraenses da cena indígena para’wara através das obras de Daniel Munduruku, Vandria Borari, Diego Godinho Kayapó, As Karuana, Coletivo Quadrinistas Indígenas, Varusa e Sarita Themonia. Da literatura às artes visuais, trazem em suas práticas cosmologias indígenas, retomadas, pertencimentos, apagamentos, etnocídios, epistemicídios e questionamentos sobre a colonização que ainda reverberam em nossos modos de viver, como também trazem apontamentos para a construção de um futuro mais ancestral.


Flavya Mutran, Quase Memória: Canoa, da série Quase Memória, 2021. Acervo MASP.


Luiz Braga, Babá Patchouli, 1986. Acervo MAM-SP.

Éder Oliveira, Sem título, da série Pixel, 2016.


Mariano Klautau Filho, Hoppe I, da série Finisterra, 2004-2008. Acervo MASP.


Jorge Eiró, Os últimos entardeceres da terra, segundo Roberto Bolaño, 2014.


Guy Veloso, Nossa Senhora das Dores, Sergipe, 2002. Acervo MASP.


Luciana Magno, Transamazônica - Altamira, 2014.


Emmanuel Nassar, O rei da noite, 1984. Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo.


Nay Jinknss, Os urubus, 2013.


Elza Lima, Círio de Caraparu, Pará, 1989.


Paulo Ribeiro, Na canoa, da série Contar de Marajó, 2017.


Keyla Sobral, Sem título (“Já vai tarde”), 2011.