Adriana Varejão, Quadro ferido, 1992. Acervo MASP
2022. Barroco brasileiro
MASP Escola: “Barroco brasileiro: leituras trans-históricas”
Curso ministrado no MASP, com oito aulas, analisando um panorama ampliado do barroco no Brasil
WEB
Curso ministrado no MASP, com oito aulas, analisando um panorama ampliado do barroco no Brasil
WEB
Curso ministrado no MASP Escola, entre 9 de maio e 4 de julho de 2022
À luz dos estudos decoloniais e da ampliação dos limites da história da arte, reitera-se a necessidade de propor uma leitura do barroco como forma de pensamento e de expressão trans-histórica, não apenas referindo-se a um período ou a um estilo artístico. A partir dessas matrizes transdisciplinares, este curso busca apresentar e discutir o panorama do barroco brasileiro em três momentos das histórias brasileiras. O primeiro, no século XVIII, busca analisar a produção de pintura, escultura e arquitetura no Brasil, não somente nos usuais polos, como Minas Gerais e Bahia, mas também na Amazônia, no sertão nordestino e no sul brasileiro. O segundo momento, no século XX, trata sobre as interpretações e valorizações do barroco na consolidação histórica e cultural de uma identidade efetivamente brasileira, em torno da Semana de Arte Moderna de 1922, da criação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1937, da divulgação da arquitetura brasileira pelo mundo e da publicação de importantes obras historiográficas que buscavam documentar e analisar essa produção. Por fim, objetiva-se discutir as reverberações contemporâneas sobre temas muito caros ao barroco a partir de uma perspectiva híbrida e decolonial, como nas obras de Anna Bella Geiger, Bené Fonteles e Adriana Varejão.
Aula 1 - 9.5.2022
Barroco: estrutura híbrida, ambígua e contraditória
Na primeira aula do curso, buscamos dissecar o barroco a partir de princípios que pautaram suas produções artísticas, mas que transbordam seus limites cronológicos e estilísticos impostos por uma historiografia positivista e obsoleta. Dessa forma, constitui-se um corpo de pensamento e de operação do barroco, que funciona trans-historicamente e que, de forma sintomática, reaparece em muitos outros momentos da história. Relacionaremos de que modo a teoria do barroco pode se conectar com a sociedade pluricultural brasileira.
Aula 2 - 16.5.2022
Ouro, madeira e sangue: o barroco em Minas Gerais
Analisaremos, nesse encontro, obras de Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), Manoel da Costa Ataíde, Joaquim José da Natividade, Francisco Xavier de Brito e João Nepomuceno Correia e Castro. A partir da produção desses artistas, pode-se perceber um panorama da pintura, da escultura e da arquitetura no cenário mineiro, refletindo uma rápida expansão urbana e do uso da arte atrelada à religião como instrumento colonizante em uma sociedade plural que vivia uma excitação tumultuosa em torno do ouro.
Aula 3 - 30.5.2022
Índios, negros, italianos e a efervescência do Grão-Pará: o barroco na Amazônia
Nessa aula, abordaremos a produção da arquitetura e de suas artes aplicadas na Amazônia a partir de duas referências principais: as oficinas artísticas dos jesuítas, produtoras de obras culturalmente híbridas, que importavam mestres artísticos da Europa e utilizavam mão-de-obra indígena, negra e mestiça, em muitos casos escravizada; e a produção do arquiteto bolonhês Antônio José Landi no Pará. Essa produção era regida por novos personagens na política e na monarquia portuguesa, tanto na Colônia quanto na Coroa, no que se chama de “Lisboa pombalina”.
Aula 4 - 06.5.2022
Recepções de tradições estrangeiras na primeira costa: o barroco no Nordeste
Os encontros políticos conflituosos das tradições artísticas europeias com as culturas ameríndias, negras e mestiças serão analisados nesse encontro sobre o barroco no Nordeste. De que forma, então, esse repertório híbrido era constituído, com suas dinâmicas de adaptação e reinterpretação de modelos arquitetônicos e artísticos importados? Com produções extremamente ricas, tanto nas grandes cidades-sede da administração colonial quanto no interior, abordaremos as obras resultantes dos intercâmbios e hibridismos culturais de uma região que vivia dinâmicas próprias com Portugal e com a África.
Aula 5 - 13.6.2022
Missões jesuíticas, guerras e propagandas: o barroco no Sul e no Sudeste
Na quinta aula do curso, analisaremos o papel decisivo da atuação da Companhia de Jesus no Sul e no Sudeste do Brasil, não apenas nas suas produções artísticas e arquitetônicas, mas também em suas estruturas educacionais, políticas e propagandísticas nessas regiões. Estudaremos como, em muitos pontos, conectavam-se com correntes europeias, como a conquista de território, a catequização de povos nativos e a solidez institucional da Ordem, ao mesmo tempo que se flexibilizavam, em alguns aspectos, para a maior penetrabilidade na sociedade brasileira.
Aula 6 - 20.6.2022
Barroco como estruturador da identidade modernista brasileira
Como provar para o mundo que o Brasil tem “quatro séculos de história”? Numa postura crítica à estrutura eurocêntrica que sustentava esse questionamento, abordaremos a fundação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e sua relação com Mário de Andrade; Lúcio Costa e o estudo da arquitetura jesuítica brasileira; Oswald de Andrade e o movimento antropofágico; e o barroco brasileiro na exposição “Brazil Builds: architecture new and old, 1652-1942”, no MoMA (Museum of Modern Art) de Nova Iorque.
Aula 7 - 27.6.2022
Incisão no corpo e na terra: Anna Bella Geiger e Bené Fonteles
Analisaremos, nesse encontro, as operações estruturais de descentralização cultural e da possibilidade de uma arte brasileira multicêntrica nas obras de Anna Bella Geiger e Bené Fonteles. Os dois artistas contemporâneos brasileiros atuam em múltiplas plataformas questionando o corpo, a história, a natureza, a geografia, a identidade brasileira e a crise das estruturas binárias como centro-periferia, nativo-alienígena, matéria-ideia, corpo-paisagem e natural-artificial. Retomam o legado colonial brasileiro para a construção de uma arte inquieta, complexa e movimentada, princípios de um barroco operado trans-historicamente pelos artistas.
Aula 8 - 04.7.2022
Ilusão trans-histórica: Adriana Varejão
Como podemos ler, na contemporaneidade, as contribuições das culturas ameríndias, africanas, asiáticas e mestiças, através dos complexos processos de transculturação que se manifestaram no barroco brasileiro? A partir desse questionamento, em um movimento de revisão histórica e narrativa, analisaremos a obra de Adriana Varejão e suas provocativas manobras de engano e ilusão, máximas barrocas, no estabelecimento de um contrafluxo decolonialista. Pensaremos, portanto, a criação de ruínas, a dilaceração da carne e a dobra de uma estrutura colonial a partir de uma pungente crítica estrutural e política.
À luz dos estudos decoloniais e da ampliação dos limites da história da arte, reitera-se a necessidade de propor uma leitura do barroco como forma de pensamento e de expressão trans-histórica, não apenas referindo-se a um período ou a um estilo artístico. A partir dessas matrizes transdisciplinares, este curso busca apresentar e discutir o panorama do barroco brasileiro em três momentos das histórias brasileiras. O primeiro, no século XVIII, busca analisar a produção de pintura, escultura e arquitetura no Brasil, não somente nos usuais polos, como Minas Gerais e Bahia, mas também na Amazônia, no sertão nordestino e no sul brasileiro. O segundo momento, no século XX, trata sobre as interpretações e valorizações do barroco na consolidação histórica e cultural de uma identidade efetivamente brasileira, em torno da Semana de Arte Moderna de 1922, da criação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1937, da divulgação da arquitetura brasileira pelo mundo e da publicação de importantes obras historiográficas que buscavam documentar e analisar essa produção. Por fim, objetiva-se discutir as reverberações contemporâneas sobre temas muito caros ao barroco a partir de uma perspectiva híbrida e decolonial, como nas obras de Anna Bella Geiger, Bené Fonteles e Adriana Varejão.
Aula 1 - 9.5.2022
Barroco: estrutura híbrida, ambígua e contraditória
Na primeira aula do curso, buscamos dissecar o barroco a partir de princípios que pautaram suas produções artísticas, mas que transbordam seus limites cronológicos e estilísticos impostos por uma historiografia positivista e obsoleta. Dessa forma, constitui-se um corpo de pensamento e de operação do barroco, que funciona trans-historicamente e que, de forma sintomática, reaparece em muitos outros momentos da história. Relacionaremos de que modo a teoria do barroco pode se conectar com a sociedade pluricultural brasileira.
Aula 2 - 16.5.2022
Ouro, madeira e sangue: o barroco em Minas Gerais
Analisaremos, nesse encontro, obras de Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), Manoel da Costa Ataíde, Joaquim José da Natividade, Francisco Xavier de Brito e João Nepomuceno Correia e Castro. A partir da produção desses artistas, pode-se perceber um panorama da pintura, da escultura e da arquitetura no cenário mineiro, refletindo uma rápida expansão urbana e do uso da arte atrelada à religião como instrumento colonizante em uma sociedade plural que vivia uma excitação tumultuosa em torno do ouro.
Aula 3 - 30.5.2022
Índios, negros, italianos e a efervescência do Grão-Pará: o barroco na Amazônia
Nessa aula, abordaremos a produção da arquitetura e de suas artes aplicadas na Amazônia a partir de duas referências principais: as oficinas artísticas dos jesuítas, produtoras de obras culturalmente híbridas, que importavam mestres artísticos da Europa e utilizavam mão-de-obra indígena, negra e mestiça, em muitos casos escravizada; e a produção do arquiteto bolonhês Antônio José Landi no Pará. Essa produção era regida por novos personagens na política e na monarquia portuguesa, tanto na Colônia quanto na Coroa, no que se chama de “Lisboa pombalina”.
Aula 4 - 06.5.2022
Recepções de tradições estrangeiras na primeira costa: o barroco no Nordeste
Os encontros políticos conflituosos das tradições artísticas europeias com as culturas ameríndias, negras e mestiças serão analisados nesse encontro sobre o barroco no Nordeste. De que forma, então, esse repertório híbrido era constituído, com suas dinâmicas de adaptação e reinterpretação de modelos arquitetônicos e artísticos importados? Com produções extremamente ricas, tanto nas grandes cidades-sede da administração colonial quanto no interior, abordaremos as obras resultantes dos intercâmbios e hibridismos culturais de uma região que vivia dinâmicas próprias com Portugal e com a África.
Aula 5 - 13.6.2022
Missões jesuíticas, guerras e propagandas: o barroco no Sul e no Sudeste
Na quinta aula do curso, analisaremos o papel decisivo da atuação da Companhia de Jesus no Sul e no Sudeste do Brasil, não apenas nas suas produções artísticas e arquitetônicas, mas também em suas estruturas educacionais, políticas e propagandísticas nessas regiões. Estudaremos como, em muitos pontos, conectavam-se com correntes europeias, como a conquista de território, a catequização de povos nativos e a solidez institucional da Ordem, ao mesmo tempo que se flexibilizavam, em alguns aspectos, para a maior penetrabilidade na sociedade brasileira.
Aula 6 - 20.6.2022
Barroco como estruturador da identidade modernista brasileira
Como provar para o mundo que o Brasil tem “quatro séculos de história”? Numa postura crítica à estrutura eurocêntrica que sustentava esse questionamento, abordaremos a fundação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e sua relação com Mário de Andrade; Lúcio Costa e o estudo da arquitetura jesuítica brasileira; Oswald de Andrade e o movimento antropofágico; e o barroco brasileiro na exposição “Brazil Builds: architecture new and old, 1652-1942”, no MoMA (Museum of Modern Art) de Nova Iorque.
Aula 7 - 27.6.2022
Incisão no corpo e na terra: Anna Bella Geiger e Bené Fonteles
Analisaremos, nesse encontro, as operações estruturais de descentralização cultural e da possibilidade de uma arte brasileira multicêntrica nas obras de Anna Bella Geiger e Bené Fonteles. Os dois artistas contemporâneos brasileiros atuam em múltiplas plataformas questionando o corpo, a história, a natureza, a geografia, a identidade brasileira e a crise das estruturas binárias como centro-periferia, nativo-alienígena, matéria-ideia, corpo-paisagem e natural-artificial. Retomam o legado colonial brasileiro para a construção de uma arte inquieta, complexa e movimentada, princípios de um barroco operado trans-historicamente pelos artistas.
Aula 8 - 04.7.2022
Ilusão trans-histórica: Adriana Varejão
Como podemos ler, na contemporaneidade, as contribuições das culturas ameríndias, africanas, asiáticas e mestiças, através dos complexos processos de transculturação que se manifestaram no barroco brasileiro? A partir desse questionamento, em um movimento de revisão histórica e narrativa, analisaremos a obra de Adriana Varejão e suas provocativas manobras de engano e ilusão, máximas barrocas, no estabelecimento de um contrafluxo decolonialista. Pensaremos, portanto, a criação de ruínas, a dilaceração da carne e a dobra de uma estrutura colonial a partir de uma pungente crítica estrutural e política.
Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa), São Francisco de Paula, 1760-1780. Acervo MASP
Fachada principal do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas, MG), séc. XVIII. Foto de Júlio Meiron
Antônio José Landi, Arco triunfal em Belém do Pará dedicado a D. José I, 1771. Acervo Biblioteca Nacional de Portugal
Foto da exposição Brazil Builds: architecture new and old, 1652-1942, 1943, no MoMA em Nova York
Anna Bella Geiger, Brasil nativo/Brasil alienígena, 1976-1977. Acervo MASP
Autor desconhecido, Ex-voto, 1755. Acervo Pinacoteca de São Paulo