Daniel Acosta, Paisagem de evasão, 2021.
2021.    Daniel Acosta
Exposição “Novas Representações”

Texto crítico para a exposição de novos artistas representados da VERVE, em São Paulo

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Daniel Acosta (1967, Rio Grande - RS) explora a espacialidade em uma escala ampliada, desde o aumento proposital de motivos usualmente ornamentais e em pequena escala, até a própria relação humana com o espaço público, com a cidade e com o meio ambiente. O artista propõe pensar o espaço através da plataforma da escultura, mas para além das usuais escalas menores.
    Ao fazê-lo, propõe um questionamento da tenuidade que separa as classificações contemporâneas entre escultura e instalação, com uma abordagem artística transdisciplinar com a arquitetura, o design, a geografia e a fenomenologia do espaço.
    Uma das preocupações centrais do artista é a relação dos espectadores com suas obras no espaço, tornando-os, de certa forma, usuários. Acosta pensa o espaço ao retratar suas florestas e paisagens naturais em materiais sintéticos, permitindo o questionamento das interferências humanas no ambiente natural, reiterando que a própria noção de naturalidade é artificial.
    Afinal, as intervenções humanas no ambiente deveriam ser consideradas naturais, na medida em que o ser humano molda o espaço às suas necessidades, como membro de um ecossistema? A artificialidade seria inerente à produção humana e à sua visão de natureza? A obra de Acosta possibilita uma leitura crítica quanto à insustentabilidade do trato humano com o meio ambiente, além de um estímulo a repensar maneiras justas de como os cidadãos se relacionam com o espaço das efervescentes cidades em que vivem.
    Com um tom irônico, Acosta por vezes utiliza materiais extremamente estandardizados, como fórmicas que imitam madeira cortadas com máquinas a laser, para representar uma paisagem natural selvagem. A hostilidade não se encontra na selvageria da floresta, mas no pensamento agressivo do homem contemporâneo e nas suas dinâmicas de produção  e de ocupação do espaço. Massas verdes de folhas que coroam copas de árvores se tornam planos vetoriais coloridos, convertidos a uma linguagem tecnológica para que máquinas pudessem replicá-los irrestrita e insustentavelmente.
    O artista propõe esses recortes naturais que podem ser transportados, assim como nas tradições islâmicas, onde os tapetes funcionavam como jardins portáteis que poderiam ser levados a qualquer lugar, afim de que se mantivesse uma relação de veneração ao cuidado da natureza através da jardinagem. Revisita, na história da arte, a temática da representação de paisagens na pintura, na gravura e na fotografia, usualmente melancólicas. Ao olharmos essas paisagens portáteis, ao invés de escaparmos do mundo urbano – no sentido latino de fugere urbem –, somos reinserimos na artificialidade impressa pelo ser humano na paisagem.

Texto originalmente publicado na exposição “Novas Representações” da VERVE, de 2 de novembro de 2021 a 19 de fevereiro de 2022

Daniel Acosta, Paisagem de evasão, 2021.