Felipe Ferreira, Sem título, da série Cada casa, 2021.
2021.    Felipe Ferreira
Exposição “Memorabilia”

Curadoria da exposição Memorabilia, primeira individual de Felipe Ferreira, no Rebujo, em Belém

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PRESS (O Liberal)


“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia” - Liev Tolstói
 
Em sua primeira exposição solo, Felipe Ferreira objetiva a árdua e delicada missão de pintar uma atmosfera. Cuidadosamente seleciona, em seu oceano memorial, imagens que o estruturam, exibindo-as como um relicário cotidiano. Essas memórias imagéticas pintadas pelo artista compõem os cenários das cenas de infância, dos laços familiares e da densa névoa de nostalgia, com uma poderosa conexão com o espectador que imprime suas próprias histórias ao ler as obras.
    A partir da sua formação como arquiteto, Ferreira maneja o espaço, em seus planos e perspectivas operadas, e dispõe cuidadosamente elementos arquitetônicos e mobiliários compondo essa saudosa memorabilia. Nos oferta fragmentos de casa, lapsos de memória, trechos de vivências. Ao reconstruir elementos caros à arquitetura paraense, como o piso multicolorido com cacos de diversas cerâmicas, a escápula de rede que balança o descanso após o almoço de domingo e a cadeira de macarrão na calçada, o artista aborda complexos temas da psicanálise e da teoria da imagem, como a memória sintomática a partir de fragmentos de imagens e a identificação autobiográfica que atravessa a dualidade autor-leitor.
    Ferreira desvela, em suas pinturas, nossa própria intimidade, o que acontece dentro de casa, sem mesmo bater na porta. Partindo desse forte lirismo imagético, as pinturas versam, sobretudo, acerca da memória, como se escutássemos a Sonata ao Luar: transbordante e plácido ao mesmo tempo. Sem figuras humanas, ao optar por criar ou reproduzir suas atmosferas melancólicas, Ferreira faz com que os protagonistas das cenas, nunca pintados, materializem-se à frente do quadro: somos nós, os observadores, os habitantes destas memórias.

Felipe Ferreira (Belém – PA, 1997) é artista plástico, arquiteto e urbanista. Vive e trabalha em Belém, onde iniciou suas experimentações artísticas em múltiplas plataformas durante a faculdade. Em 2016, encontra na pintura mural uma de suas principais plataformas, produzindo dezenas de murais nos últimos 5 anos. Transitando entre diferentes técnicas, como pastel oleoso e tinta acrílica sobre tela, tecido cru e papel, o artista atualmente se dedica à pintura de elementos botânicos e domiciliares brasileiros, tanto em sua espacialidade, quanto em seus sentimentos dentro de universos carregados de referências pessoais.

Texto originalmente publicado na exposição “Memorabilia”, de Felipe Ferreira, no espaço cultural Rebujo, em Belém (PA), de 26 de novembro a 28 de dezembro de 2021.

Felipe Ferreira, Sem título, da série Cada casa, 2021.


Felipe Ferreira, Sem título, da série Cada casa, 2021.


Felipe Ferreira, Sem título, da série Cada casa, 2021.


Felipe Ferreira, Sem título, da série Cada casa, 2021.


Felipe Ferreira, Espera, 2021.


Felipe Ferreira, Canto de vó, 2021.


Felipe Ferreira, Sem título, da série Cada casa, 2021.


Felipe Ferreira, Quintal, 2021.


Exposição Memorabilia, de Felipe Ferreira, 2021.


Exposição Memorabilia, de Felipe Ferreira, 2021.


Exposição Memorabilia, de Felipe Ferreira, 2021.


Exposição Memorabilia, de Felipe Ferreira, 2021.


Exposição Memorabilia, de Felipe Ferreira, 2021.


Exposição Memorabilia, de Felipe Ferreira, 2021.