Candido Portinari, O sacrifício de Abrahão, da ‘série Bíblica’, 1943. Acervo MASP.
2021. Candido Portinari +
Pablo Picasso +
Rembrandt van Rijn +
Caravaggio
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novas leituras MASP: Candido Portinari
Texto crítico publicado no Instagram do MASP (Museu de Arte de São Paulo), na sessão novas leituras
WEB
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Em O sacrifício de Abrahão, Portinari nos apresenta a dualidade da paternidade: por mais que se seja pai, se é sempre filho.
Abrahão é posto em um desafio épico, como narra o livro de Gênesis: é pedido por Deus que sacrifique seu filho, Isaac, como prova de amor divino. As explícitas relações com a Guernica (1937) de Picasso, além de materializadas nos aspectos geométricos, cromáticos e figurativos da pintura, também são expostas na energia caótica do quadro de grandes dimensões—como o ato de Abrahão—, intensificando todos os gestos.
Essas dinâmicas são ainda mais evidentes ao compararmos com o quadro de mesmos tema e título pintado por Portinari em 1939 e com outras obras da sua ‘Série bíblica’. As perspectivas múltiplas do cubismo, além de espaciais, são temporais: a energia potencial do punhal que está a ponto de matar, do filho que flutua ao abraçar tenramente o pai, do cordeiro que se debate ao chão.
A síntese imaculada do cristianismo: amor é sacrifício. Congela-se um oceano de movimentos. Os olhos do filho denunciam a entrega, enquanto os do pai alarmam a angústia—e, ao mesmo tempo, o espanto, como se a desacorrentasse de um pesadelo.
Há, entretanto, uma chave que muda a direção da leitura da obra: seu título. A de Portinari chama-se O sacrifício de Abrahão, e não O sacrifício de Isaac, como em Rembrandt e Caravaggio. Aqui, é Abrahão quem sofre por ter que sacrificar o filho, rebatendo-se na dor da perda, mas que, ao último segundo, é recompensado com o alívio. A dinâmica do sofrimento inverte-se, a dialética afetiva prevalece: o pai—que também é filho, num intercâmbio de amor—acredita e ama incondicionalmente, sem questionar.
Texto originalmente publicado no Instagram do MASP (@masp) em 26 de junho de 2021
Abrahão é posto em um desafio épico, como narra o livro de Gênesis: é pedido por Deus que sacrifique seu filho, Isaac, como prova de amor divino. As explícitas relações com a Guernica (1937) de Picasso, além de materializadas nos aspectos geométricos, cromáticos e figurativos da pintura, também são expostas na energia caótica do quadro de grandes dimensões—como o ato de Abrahão—, intensificando todos os gestos.
Essas dinâmicas são ainda mais evidentes ao compararmos com o quadro de mesmos tema e título pintado por Portinari em 1939 e com outras obras da sua ‘Série bíblica’. As perspectivas múltiplas do cubismo, além de espaciais, são temporais: a energia potencial do punhal que está a ponto de matar, do filho que flutua ao abraçar tenramente o pai, do cordeiro que se debate ao chão.
A síntese imaculada do cristianismo: amor é sacrifício. Congela-se um oceano de movimentos. Os olhos do filho denunciam a entrega, enquanto os do pai alarmam a angústia—e, ao mesmo tempo, o espanto, como se a desacorrentasse de um pesadelo.
Há, entretanto, uma chave que muda a direção da leitura da obra: seu título. A de Portinari chama-se O sacrifício de Abrahão, e não O sacrifício de Isaac, como em Rembrandt e Caravaggio. Aqui, é Abrahão quem sofre por ter que sacrificar o filho, rebatendo-se na dor da perda, mas que, ao último segundo, é recompensado com o alívio. A dinâmica do sofrimento inverte-se, a dialética afetiva prevalece: o pai—que também é filho, num intercâmbio de amor—acredita e ama incondicionalmente, sem questionar.
Texto originalmente publicado no Instagram do MASP (@masp) em 26 de junho de 2021
Candido Portinari, O sacrifício de Abrahão, 1939.
Candido Portinari, As trombetas de Jericó, da ‘série Bíblica’, 1943. Acervo MASP.
Pablo Picasso, Guernica, 1937. Acervo Museo Reina Sofía.
Rembrandt van Rijn, O sacrifício de Isaac, 1634. Acervo Hermitage Museum.
Caravaggio, Sacrifício de Isaac, 1603. Acervo Galleria degli Uffizi.