Emmanuel Nassar, Sem título, 1986. 
2021.    Emmanuel Nassar +
               Luiz Braga
novas leituras MASP: Emmanuel Nassar

Texto crítico publicado no Instagram do MASP (Museu de Arte de São Paulo), na sessão novas leituras

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Em sua obra, Emmanuel Nassar busca estabelecer uma estética brasileira outra, de um Brasil por vezes esquecido, remoto. Para Nassar, os símbolos amazônicos do Norte do país compõem e estruturam a identidade brasileira, tal como os que remetem às ideias de ‘ordem e progresso’ — originados em centros que não estiveram na periferia da modernidade.
    Na obra do acervo do MASP, datada de 1986, o artista decompõe a geometria da bandeira nacional: o verde e o amarelo alternam-se em linhas horizontais; o azul, antes no centro, agora está às margens; e o losango central, como um corte na madeira protegido por uma tela de arame, nos lembra as aberturas das bilheterias do interior paraense, como retrata Luiz Braga em ‘Bilheteria’, de 1987, no acervo do MAM-SP.
    Esta abertura — um dos elementos que proporcionam tridimensionalidade ao quadro — pode também ser lida de forma ambígua: sagrada, ao assemelhar-se à grelha dos confessionários católicos; ou profana, como as caixas de som das festas de aparelhagem. Na foto de Braga, a bandeira e a trama de arames reaparecem, tecidas nas pulseiras do vendedor de ingressos. Nassar, em sua pintura, coroa a obra com um pássaro colorido de miriti, brinquedo companheiro nas festas tradicionais do Norte, feito de madeira leve e pintada.
    Aparentemente de forma lúdica — inclusive ao assinar a obra com um arco na base, como uma criança que pinta um arco-íris —, mas de complexa e forte erudição, os trabalhos de Nassar — como a pintura do MASP ou sua mais recente ‘Bandeira negra’, de 2017 — nos permitem lembrar que são possíveis investigações de novas escritas, ressignificações simbólicas e desconstruções de mitos.

Texto originalmente publicado no Instagram do MASP (@masp) em 16 de novembro de 2021

Emmanuel Nassar, Bandeira Negra, 2017.


Luiz Braga, Bilheteria, 1987.