Paula Sampaio, Rodovia Belém-Brasília: carvoaria, da série Antônios e Cândidas tem sonhos de sorte, 1997, coleção MASP Pirelli.
2023.    Paula Sampaio
novas leituras MASP: Paula Sampaio

Texto crítico publicado no Instagram do MASP (Museu de Arte de São Paulo), na sessão novas leituras

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Na série Antônios e Cândidas têm sonhos de sorte, Paula Sampaio retrata as dinâmicas de migração de pessoas de diversas regiões que sonham com enriquecimento e buscam oportunidades de trabalho na Amazônia. Esse fictício Eldorado, à disposição da colheita desregrada, foi anunciado pelo colonialismo predatório e é historicamente retomado, como na ditadura civil-militar e nos recentes ataques à região e aos seus povos.
    A trajetória da própria artista espelha essa situação: nascida em Minas Gerais, mudou-se ainda criança para a fronteira entre o Pará e o Maranhão, e se radicou em Belém em 1982. Escolheu registrar o cotidiano que marca esse território, em longas viagens pelas estradas de terra que atravessam a Amazônia–e sua própria vida–, trazendo gente, movimentando sonhos e exportando riquezas.
    Rodovia Belém Brasília: Carvoaria, componente da série, tem aproximações imagéticas com temas da história da arte ocidental hegemônica, ao mesmo tempo que se distancia dela ao expressar singularidades locais, assim como boa parte da produção artística paraense. A foto se assemelha com uma cena típica da pintura do romantismo alemão: a imagem do viajante vencedor no topo da montanha com o horizonte coberto pela névoa; mas, diferentemente dessa narrativa, denuncia a escravização de trabalhadores no interior paraense, cativos por uma fumaça que os cerca, os sufoca e os isola. Assim, a obra confronta enfrentamento e denúncia com a potência das imagens produzidas na região, colidindo triunfo e tragédia e reivindicando outras possibilidades de pertencimento.

Texto originalmente publicado no Instagram do MASP (@masp) em 12 de dezembro de 2023